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terça-feira, 14 de novembro de 2006
“Cobras & Lagartos” na pauta dos jornalistas
Ana Gabriela Ribeiro* - cadegabi@yahoo.com.br
A imagem de Montes Claros, apresentada pela novela “Cobras e Lagartos”, na terça-feira (07/11), indignou o norte de Minas ao sugerir que o município seria um vilarejo sem infra-estrutura básica, distante dos avanços tecnológicos, onde o dinheiro não circula e a população é primitiva. Uma imagem que foi transmitida em rede nacional, com uma média de audiência de 45 pontos, índice considerado alto pelo Ibope para a programação do horário das 19h, mesmo em relação às novelas da própria emissora.
Ora, não devemos ser passionais a ponto de pensarmos que o erro cometido pela novela tenha sido proposital, premeditado – como demonstram algumas opiniões registradas na internet. Na verdade, a interpretação equivocada sobre a cidade revelou outra coisa: a falta de apuração, de pesquisa, de interesse e compromisso dos profissionais envolvidos na produção da novela com o público – mesmo considerando “que se trata de uma obra de ficção, onde as possibilidades são infinitas”, como se defende a Central Globo de Comunicação, em resposta aos e-mails revoltados daqueles telespectadores que amam e têm orgulho de Montes Claros (sentimento extensivo aos moradores de Bocaiúva, município que também “apareceu mal na fita”).
O erro é indesculpável porque depende dos profissionais que têm nas mãos uma informação a ser divulgada ao público – seja no país inteiro, num estado, num município ou comunidade, associação. No caso de “Cobras & Lagartos”, o autor decidiu que o personagem iria “cair” em uma cidade do interior de Minas, no fim do mundo, num lugar pobre, que não tem nada. Aí, ele se lembrou de Montes Claros ou alguém sugeriu, enfim, não importa de quem foi a idéia sobre a cidade, mas a partir deste momento, alguém da equipe – seja o autor, assistente, pesquisador, produtor – deveria ter perguntado onde fica Montes Claros e como é a localidade, se está de acordo com o que o enredo propõe.
Vamos então levar o exemplo para o campo do jornalismo, do cotidiano de uma redação. Qual seria a reação de uma pessoa que concedeu uma entrevista a determinado veículo de comunicação de uma cidade e, no dia seguinte, ao ler o jornal ou assistir à tv, se depara com o nome creditado errado ou suas palavras alteradas pelo repórter? Acredito que a decepção e a indignação seriam as mesmas dos telespectadores que viram a imagem de Montes Claros ser distorcida pela novela.
O jornalista tem a obrigação de confirmar todas as informações a respeito da fonte, do entrevistado, do personagem, da instituição, do órgão público, do bairro, ou seja, de qualquer pessoa ou local a ser citado em uma notícia. Ele não pode, como o autor da novela, “achar” sem confirmar, e pensar assim: “Ah! Eu acho que aquela mulher é empregada doméstica ou aposentada, vou creditar assim mesmo.”; “O fulano de tal disse... xi! não estou entendendo direito a minha letra, não me lembro direito o que ele disse, vou colocar o que eu achar”. Ao ler uma informação incoerente em um release, por exemplo, o repórter erra em não questionar, com quem o enviou, se é isso mesmo: “o investimento é de R$ 200 mil ou de R$ 200, como diz aqui no release?” O repórter ou redator conversou com o coordenador de serviços gerais da prefeitura sobre um problema tal, do bairro tal, considera este depoimento suficiente para responder pela secretaria de administração e o publica como fala oficial.
Inúmeros e variados são os erros que a imprensa comete diariamente nas redações do país afora. E em todos eles, há uma marca que não dá pra esconder: a da preguiça do jornalista de perguntar, questionar, de considerar a possibilidade de o outro ter errado, ou de duvidar de sua memória e apurar, apurar, apurar; gastar alguns minutos para verificar a veracidade de um dado, o sobrenome ou a função correta de alguém, a localização certa de um bairro, se o preso é suspeito ou culpado do crime. Isto é cuidado com a informação e, principalmente, respeito com quem vai ler, assistir ou ouvir a notícia.
* Jornalista e professora do Curso de Jornalismo do CRECIH/Funorte
A imagem de Montes Claros, apresentada pela novela “Cobras e Lagartos”, na terça-feira (07/11), indignou o norte de Minas ao sugerir que o município seria um vilarejo sem infra-estrutura básica, distante dos avanços tecnológicos, onde o dinheiro não circula e a população é primitiva. Uma imagem que foi transmitida em rede nacional, com uma média de audiência de 45 pontos, índice considerado alto pelo Ibope para a programação do horário das 19h, mesmo em relação às novelas da própria emissora.
Ora, não devemos ser passionais a ponto de pensarmos que o erro cometido pela novela tenha sido proposital, premeditado – como demonstram algumas opiniões registradas na internet. Na verdade, a interpretação equivocada sobre a cidade revelou outra coisa: a falta de apuração, de pesquisa, de interesse e compromisso dos profissionais envolvidos na produção da novela com o público – mesmo considerando “que se trata de uma obra de ficção, onde as possibilidades são infinitas”, como se defende a Central Globo de Comunicação, em resposta aos e-mails revoltados daqueles telespectadores que amam e têm orgulho de Montes Claros (sentimento extensivo aos moradores de Bocaiúva, município que também “apareceu mal na fita”).
O erro é indesculpável porque depende dos profissionais que têm nas mãos uma informação a ser divulgada ao público – seja no país inteiro, num estado, num município ou comunidade, associação. No caso de “Cobras & Lagartos”, o autor decidiu que o personagem iria “cair” em uma cidade do interior de Minas, no fim do mundo, num lugar pobre, que não tem nada. Aí, ele se lembrou de Montes Claros ou alguém sugeriu, enfim, não importa de quem foi a idéia sobre a cidade, mas a partir deste momento, alguém da equipe – seja o autor, assistente, pesquisador, produtor – deveria ter perguntado onde fica Montes Claros e como é a localidade, se está de acordo com o que o enredo propõe.
Vamos então levar o exemplo para o campo do jornalismo, do cotidiano de uma redação. Qual seria a reação de uma pessoa que concedeu uma entrevista a determinado veículo de comunicação de uma cidade e, no dia seguinte, ao ler o jornal ou assistir à tv, se depara com o nome creditado errado ou suas palavras alteradas pelo repórter? Acredito que a decepção e a indignação seriam as mesmas dos telespectadores que viram a imagem de Montes Claros ser distorcida pela novela.
O jornalista tem a obrigação de confirmar todas as informações a respeito da fonte, do entrevistado, do personagem, da instituição, do órgão público, do bairro, ou seja, de qualquer pessoa ou local a ser citado em uma notícia. Ele não pode, como o autor da novela, “achar” sem confirmar, e pensar assim: “Ah! Eu acho que aquela mulher é empregada doméstica ou aposentada, vou creditar assim mesmo.”; “O fulano de tal disse... xi! não estou entendendo direito a minha letra, não me lembro direito o que ele disse, vou colocar o que eu achar”. Ao ler uma informação incoerente em um release, por exemplo, o repórter erra em não questionar, com quem o enviou, se é isso mesmo: “o investimento é de R$ 200 mil ou de R$ 200, como diz aqui no release?” O repórter ou redator conversou com o coordenador de serviços gerais da prefeitura sobre um problema tal, do bairro tal, considera este depoimento suficiente para responder pela secretaria de administração e o publica como fala oficial.
Inúmeros e variados são os erros que a imprensa comete diariamente nas redações do país afora. E em todos eles, há uma marca que não dá pra esconder: a da preguiça do jornalista de perguntar, questionar, de considerar a possibilidade de o outro ter errado, ou de duvidar de sua memória e apurar, apurar, apurar; gastar alguns minutos para verificar a veracidade de um dado, o sobrenome ou a função correta de alguém, a localização certa de um bairro, se o preso é suspeito ou culpado do crime. Isto é cuidado com a informação e, principalmente, respeito com quem vai ler, assistir ou ouvir a notícia.
* Jornalista e professora do Curso de Jornalismo do CRECIH/Funorte
terça-feira, 19 de setembro de 2006
Morre o grande defensor das Gerais
Mateus Nascimento* (trankgoku@hotmail.com)
Após a perda de Dom José Mauro Pereira Bastos, um vazio toma conta dos corações norte-mineiros. Na memória ficarão guardadas as lembranças de um homem que não só pregava, mas que agia de acordo com os valores mais nobres que a vida pode oferecer.
No espaço social ficam todas as obras deixadas por um lutador, um ser humano determinado pelas suas ideologias que se contrastam com a triste realidade vivida pela região, mas que em momento algum se curvou diante das dificuldades e abandonou aqueles que mais necessitavam da sua ajuda.
O homem político, que no último encontro com o seu povo pediu para que este tivesse uma maior conscientização na hora de exercer a sua cidadania.
“Fiquei profundamente chocado e sensibilizado com tudo que aconteceu. A sociedade como um todo perde uma excelente pessoa, um homem de alma elevada,” lamentou o bancário Jucélio Rodrigues.
Fica a imagem de um Bispo apaixonado, aquele que unificou Minas às Gerais, lhes ensinando a lutar mesmo sob opressão, amargura e conflitos sociais. Deixando claro, que a paz e a harmonia podem ir além dos sonhos, desde que o povo colabore e trabalhe em conjunto.
“Dom José Mauro foi para todos nós um diretor espiritual que transmitia paz e alegria. Um incentivador que acreditou na boa nova, nas suas palavras o evangelho estava presente” são as palavras emocionadas de seu amigo Toninho Vicentino. “Um santo entre os homens, a ele deixo os meus agradecimentos por tudo que fez pela sociedade vicentina e nosso asilo”, conclue. Mais um herói se despede. Um presente temporário enviado por Deus que nos encheu de esperança e alegria. Um anjo! Do qual só nos resta dizer: “Muito obrigado.”
* Mateus Nascimento é acadêmico de Jornalismo e gorutubano de nascimento. Ele conviveu com o bispo Dom José Mauro Pereira Bastos (à esquerda, na foto) em Janaúba, durante os quase 5 anos que esteve frente àquela diocese. Dom Mauro faleceu na quinta-feira passada, 14 de setembro, num acidente automobilístico próximo a Belo Horizonte. Ele havia assumido há 3 meses a Diocese de Guaxupé, no sul de Minas.
Após a perda de Dom José Mauro Pereira Bastos, um vazio toma conta dos corações norte-mineiros. Na memória ficarão guardadas as lembranças de um homem que não só pregava, mas que agia de acordo com os valores mais nobres que a vida pode oferecer.
No espaço social ficam todas as obras deixadas por um lutador, um ser humano determinado pelas suas ideologias que se contrastam com a triste realidade vivida pela região, mas que em momento algum se curvou diante das dificuldades e abandonou aqueles que mais necessitavam da sua ajuda.
O homem político, que no último encontro com o seu povo pediu para que este tivesse uma maior conscientização na hora de exercer a sua cidadania.
“Fiquei profundamente chocado e sensibilizado com tudo que aconteceu. A sociedade como um todo perde uma excelente pessoa, um homem de alma elevada,” lamentou o bancário Jucélio Rodrigues.
Fica a imagem de um Bispo apaixonado, aquele que unificou Minas às Gerais, lhes ensinando a lutar mesmo sob opressão, amargura e conflitos sociais. Deixando claro, que a paz e a harmonia podem ir além dos sonhos, desde que o povo colabore e trabalhe em conjunto.
“Dom José Mauro foi para todos nós um diretor espiritual que transmitia paz e alegria. Um incentivador que acreditou na boa nova, nas suas palavras o evangelho estava presente” são as palavras emocionadas de seu amigo Toninho Vicentino. “Um santo entre os homens, a ele deixo os meus agradecimentos por tudo que fez pela sociedade vicentina e nosso asilo”, conclue. Mais um herói se despede. Um presente temporário enviado por Deus que nos encheu de esperança e alegria. Um anjo! Do qual só nos resta dizer: “Muito obrigado.”
* Mateus Nascimento é acadêmico de Jornalismo e gorutubano de nascimento. Ele conviveu com o bispo Dom José Mauro Pereira Bastos (à esquerda, na foto) em Janaúba, durante os quase 5 anos que esteve frente àquela diocese. Dom Mauro faleceu na quinta-feira passada, 14 de setembro, num acidente automobilístico próximo a Belo Horizonte. Ele havia assumido há 3 meses a Diocese de Guaxupé, no sul de Minas.
domingo, 20 de agosto de 2006
Conscientização ambiental e política marcam Romaria das Águas
Mateus Nascimento (trankgoku@hotmail.com)
A cidade norte-mineira de Janaúba sediou neste final de semana (20 de agosto) a décima edição da Romaria das Águas, evento organizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), em conjunto com a Cáritas Brasileira - Regional MG, instituição que comemora 50 anos de luta ao lado dos povos excluídos.
Caravanas de Belo Horizonte, Taiobeiras, Matias Cardoso, Porteirinha, Januária, Montes Claros, Guaxupé e Jaíba foram recebidas na praia do Copo Sujo no início da manhã de domingo.
“Muito bom, bem organizado, um evento do povo, das pastorais, da cultura e da religiosidade”, disse o religioso Albino Nonato de Oliveira, de Belo Horizonte.
Logo após, às 9 horas, teve início a missa na praia do Copo Sujo. Conforme a programação, a missa foi interrompida, seguida da caminhada litúrgica e dando início a celebração itinerante passando pelas ruas da cidade até a praça da Catedral, num percurso de cerca de cinco quilômetros. Durante a caminhada, a multidão se misturou sem distinções de classes sociais e caminhou lado a lado unida pelo mesmo ideal: “Terra e água força de vida, vida em abundância para toda criação”, lema da Romaria das Águas.
Os organizadores do evento abordaram temas polêmicos como a transposição do Rio São Francisco aproveitando a presença de candidatos ao governo do Estado e à Assembléia Legislativa. “Autoridades, prestem atenção no povo, nos ribeirinhos, quilombolas, que preservaram essas terras por tantos anos”, exemplificou. “A transposição do São Francisco não será usada para suprir às necessidades das pessoas carentes da região, e sim para fins lucrativos dos grandes proprietários de terra”, concluiu um dos organizadores do evento durante a caminhada.
Dom José Mauro Pereira Bastos, vice-presidente da CPT nacional, disse que a romaria deve servir de reflexão sobre a questão das terras e das águas. “Devemos direcionar nossas orações e ações para esta problemática tão presente hoje”, disse o atual bispo da Diocese de Guaxupé mas que trabalhou desde o ano 2000 até o início deste ano em Janaúba e conhece bem a realidade norte-mineira.
Com a chegada dos peregrinos na praça da Catedral, houve uma pausa na celebração para que os romeiros pudessem almoçar. Logo após, foi retomada a celebração religiosa quando o celebrante Dom José Mauro pediu aos fiéis para uma maior conscientização social na hora de votar e escolher seus candidatos.
CARTA DE JANÁUBA
No fim da celebração foi lida a carta elaborada pelos organizadores da Romaria.
“Chegou a hora de irmos embora, de seguirmos em caminhada para a terra sem males. Levamos na sacola a alegria de romeiros e de romeiras. Levamos grudados em nosso corpo as prioridades e os desafios de continuar nossa luta pela libertação das águas e da terra, para homens, mulheres e criaturas livres. É hora de destruir o capitalismo e suas mordaças. Vamos juntos remover pedras, construir poesias e práticas emancipatórias e revolucionárias. Salve o Rio Gorutuba, o Verde Grande, o Rio Pardo! Salve o Rio São Francisco! Salve os olhos-d’água, as veredas e as chapadas! Salve o povo gorutubano e o povo brasileiro!”.
A primeira Romaria das Águas foi realizada na cidade de Manga, no Vale do São Francisco, no ano de 1996. Desde então, o evento vem ganhando força e promovendo a conscientização sobre os problemas ambientais da região, com ênfase ao Rio São Francisco e seus afluentes.
A cidade de Belo Horizonte terá a missão de sediar a Romaria das Águas em 2007, e dar continuidade ao processo de conscientização social sobre os problemas relacionados ao meio ambiente.
A cidade norte-mineira de Janaúba sediou neste final de semana (20 de agosto) a décima edição da Romaria das Águas, evento organizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), em conjunto com a Cáritas Brasileira - Regional MG, instituição que comemora 50 anos de luta ao lado dos povos excluídos.
Caravanas de Belo Horizonte, Taiobeiras, Matias Cardoso, Porteirinha, Januária, Montes Claros, Guaxupé e Jaíba foram recebidas na praia do Copo Sujo no início da manhã de domingo.
“Muito bom, bem organizado, um evento do povo, das pastorais, da cultura e da religiosidade”, disse o religioso Albino Nonato de Oliveira, de Belo Horizonte.
Logo após, às 9 horas, teve início a missa na praia do Copo Sujo. Conforme a programação, a missa foi interrompida, seguida da caminhada litúrgica e dando início a celebração itinerante passando pelas ruas da cidade até a praça da Catedral, num percurso de cerca de cinco quilômetros. Durante a caminhada, a multidão se misturou sem distinções de classes sociais e caminhou lado a lado unida pelo mesmo ideal: “Terra e água força de vida, vida em abundância para toda criação”, lema da Romaria das Águas.
Os organizadores do evento abordaram temas polêmicos como a transposição do Rio São Francisco aproveitando a presença de candidatos ao governo do Estado e à Assembléia Legislativa. “Autoridades, prestem atenção no povo, nos ribeirinhos, quilombolas, que preservaram essas terras por tantos anos”, exemplificou. “A transposição do São Francisco não será usada para suprir às necessidades das pessoas carentes da região, e sim para fins lucrativos dos grandes proprietários de terra”, concluiu um dos organizadores do evento durante a caminhada.
Dom José Mauro Pereira Bastos, vice-presidente da CPT nacional, disse que a romaria deve servir de reflexão sobre a questão das terras e das águas. “Devemos direcionar nossas orações e ações para esta problemática tão presente hoje”, disse o atual bispo da Diocese de Guaxupé mas que trabalhou desde o ano 2000 até o início deste ano em Janaúba e conhece bem a realidade norte-mineira.
Com a chegada dos peregrinos na praça da Catedral, houve uma pausa na celebração para que os romeiros pudessem almoçar. Logo após, foi retomada a celebração religiosa quando o celebrante Dom José Mauro pediu aos fiéis para uma maior conscientização social na hora de votar e escolher seus candidatos.
CARTA DE JANÁUBA
No fim da celebração foi lida a carta elaborada pelos organizadores da Romaria.
“Chegou a hora de irmos embora, de seguirmos em caminhada para a terra sem males. Levamos na sacola a alegria de romeiros e de romeiras. Levamos grudados em nosso corpo as prioridades e os desafios de continuar nossa luta pela libertação das águas e da terra, para homens, mulheres e criaturas livres. É hora de destruir o capitalismo e suas mordaças. Vamos juntos remover pedras, construir poesias e práticas emancipatórias e revolucionárias. Salve o Rio Gorutuba, o Verde Grande, o Rio Pardo! Salve o Rio São Francisco! Salve os olhos-d’água, as veredas e as chapadas! Salve o povo gorutubano e o povo brasileiro!”.
A primeira Romaria das Águas foi realizada na cidade de Manga, no Vale do São Francisco, no ano de 1996. Desde então, o evento vem ganhando força e promovendo a conscientização sobre os problemas ambientais da região, com ênfase ao Rio São Francisco e seus afluentes.
A cidade de Belo Horizonte terá a missão de sediar a Romaria das Águas em 2007, e dar continuidade ao processo de conscientização social sobre os problemas relacionados ao meio ambiente.
terça-feira, 8 de agosto de 2006
Abertas inscrições para o Prêmio Senai de Reportagem
O Senai, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, está abrindo as inscrições para o Prêmio Senai de Reportagem. Ele é destinado a profissionais de todas as mídias, além de uma categoria especial para estudantes de Jornalismo, novidade para este ano.
Na sua 5ª edição, a iniciativa tem o objetivo de incentivar a produção jornalística de reportagens sobre educação profissional e tecnológica em favor do desenvolvimento da indústria brasileira.
O vencedor da categoria Especial Universitário ganhará viagem e hospedagem para visitar o Centro de Tecnologia do Gás (CT Gás), do Senai, em Natal, e mais R$ 2 mil para transporte e alimentação.
O regulamento e mais informações sobre o Prêmio podem ser conferidos no site http://www.senai.br/
quinta-feira, 6 de julho de 2006
Marilena Chauí critica a mídia
A filósofa Marilena Chauí abriu o 32º Congresso Nacional dos Jornalistas, em Ouro Preto (MG), nesta quarta-feira, 5, com o tema mídia e poder. Crítica contumaz da mídia, ela expôs que o jornalismo está ficando cada vez mais rápido, barato e inexato. “Baseado em buscas aleatórias, o jornalismo se tornou hoje um dos principais protagonistas da destruição da opinião pública”, diz Chauí.
Com a onda do neoliberalismo instalada pelo mundo, a professora da USP ressalta o encolhimento do espaço público e o alargamento do espaço privado, onde poucos conglomerados detêm o poder da comunicação. Com isso o gigantesco poder está com o capital, que transformou os meios de comunicação de massa numa indústria onde a notícia é banalizada.
Chauí observa ainda que há uma verdadeira saturação de informações, mas no fundo nada sabemos, porque as reflexões sobre as referências políticas, sociais e históricas, com suas causas e conseqüências, não são exercitadas. Em lugar de opinião pública, os veículos de comunicação produzem manifestação do sentimento da massa, já que todos os assuntos são uma questão de gosto, de preferência e não de pensamento, de julgamento, diz a professora.
“A mídia está imersa na cultura do narcisismo”, declara Chauí, não sem antes dizer que isto acontece no mundo todo e não só aqui no Brasil. Como exemplo ela citou o Big Brother Brasil, onde as pessoas ficam diante da televisão ávidas por informações sobre a intimidade e a privacidade alheia. O mesmo acontece nos programas de auditório e também no rádio, onde além de expor a intimidade das pessoas, nos ensinam como devemos falar, comer, andar, vestir etc, como se nada soubéssemos.
Para Marilena Chauí o especialista competente divulga saber, explica e interpreta a notícia. No caso da mídia hoje, as notícias são passadas de maneira a impedir que se possa localizá-la no tempo e no espaço. O noticiário fútil e com uma construção sistematizada e deliberada de uma ordem apaziguadora exerce o poder da desinformação e nos transmite a idéia, que apesar dos pesares, o mundo vai bem, obrigado.
Fonte: Jornalistas de Minas
Com a onda do neoliberalismo instalada pelo mundo, a professora da USP ressalta o encolhimento do espaço público e o alargamento do espaço privado, onde poucos conglomerados detêm o poder da comunicação. Com isso o gigantesco poder está com o capital, que transformou os meios de comunicação de massa numa indústria onde a notícia é banalizada.
Chauí observa ainda que há uma verdadeira saturação de informações, mas no fundo nada sabemos, porque as reflexões sobre as referências políticas, sociais e históricas, com suas causas e conseqüências, não são exercitadas. Em lugar de opinião pública, os veículos de comunicação produzem manifestação do sentimento da massa, já que todos os assuntos são uma questão de gosto, de preferência e não de pensamento, de julgamento, diz a professora.
“A mídia está imersa na cultura do narcisismo”, declara Chauí, não sem antes dizer que isto acontece no mundo todo e não só aqui no Brasil. Como exemplo ela citou o Big Brother Brasil, onde as pessoas ficam diante da televisão ávidas por informações sobre a intimidade e a privacidade alheia. O mesmo acontece nos programas de auditório e também no rádio, onde além de expor a intimidade das pessoas, nos ensinam como devemos falar, comer, andar, vestir etc, como se nada soubéssemos.
Para Marilena Chauí o especialista competente divulga saber, explica e interpreta a notícia. No caso da mídia hoje, as notícias são passadas de maneira a impedir que se possa localizá-la no tempo e no espaço. O noticiário fútil e com uma construção sistematizada e deliberada de uma ordem apaziguadora exerce o poder da desinformação e nos transmite a idéia, que apesar dos pesares, o mundo vai bem, obrigado.
Fonte: Jornalistas de Minas
segunda-feira, 3 de julho de 2006
O sonho chega ao fim
Mateus Rodrigo Nascimento (trankgoku@hotmail.com)
Depois da desclassificação, o brasileiro permanece sem reação e com um forte sentimento melancólico dentro do peito. A Copa da Alemanha parecia algo fácil, o hexa estava a cada dia mais próximo. A seleção brasileira era vista como uma equipe “mágica”, com jogadores extremamente habilidosos e consagrados dentro dos seus clubes.
Mas nos deparamos com outra realidade na última partida contra a França. Vimos uma seleção brasileira apática, nervosa, embalada pelo individualismo e falta de criatividade. Com uma zaga impecável, mas com um ataque deficiente. Uma equipe do qual se esperava arte e alegria, mas que não foi capaz de mostrar dentro de campo o mínimo que se espera de jogadores profissionais: “Futebol”. Uma mera obrigação.
Lágrimas desceram pelos rostos dos torcedores, alguns movidos pela raiva, outros pela dor. A festa estava armada, ficamos sem reação diante de tanta ignorância e incompetência por parte de um treinador.
O sonho chega ao fim, o hexa campeonato mundial foi adiado para os próximos quatro anos. Saímos tristes, com o orgulho ferido, sim! Mas orgulhosos em sermos brasileiros...
domingo, 2 de julho de 2006
A renúncia à arte de ver
O XIS DA QUESTÃO – Escreveu Helen Keller: Eu, que sou cega, posso dar uma sugestão àqueles que vêem: usem seus olhos como se amanhã fossem perder a visão. É o primeiro ponto de um belo roteiro para despertar e sacudir a criatividade jornalística, anestesiada e deseducada pela cultura racional dos manuais de redação.
1. A vida, nos detalhes
A minha formação jornalística se iniciou, sem que o soubesse, quando, cinqüenta anos atrás, no idealismo da militância operária em que andei envolvido, agucei a sensibilidade para a captação dos pequenos fatos do cotidiano, nos ambientes onde vivia e trabalhava. Saber “olhar e ouvir” era a base do nosso trabalho de reflexão, para a ação. Depois, nas discussões, havia um método que orientava a construção de conexões entre as ocorrências observadas pelo grupo. Tratava-se de um processo extraordinariamente lúcido de elaborar sentidos e significações, na leitura da vida real. E que tornava possível descobrir como, nos fatos corriqueiros do dia-a-dia, se manifestavam as mais complicadas realidades dos trabalhadores - o que dava rumo às lutas por transformações.Graças a essa educação militante, aprendi a observar detalhes, e a lhes atribuir significados, entendendo-os como manifestações de realidades ocultas.Isso me ajudou a ser repórter obsessivamente observador. E a cedo descobrir que, sem a riqueza descritiva dos detalhes, não há como dar vida, nem beleza, à narração de ações e emoções humanas, nossa arte. Porque a vida se revela nos detalhes. Quem não os capta deixa escapar a vida.Talvez esteja aí, na renúncia aos detalhes, ou na incapacidade de entendê-los, o mal maior da reportagem, no jornalismo brasileiro de hoje. E eis aí o assunto que proponho ao debate.Para ajudar à discussão, aproveito, em trechos, um texto maravilhoso de Helen Keller, que alguém me enviou dias atrás. Trata-se de um pequeno mas precioso ensaio publicado há 70 anos, no Reader’s Digest (Seleções). Sem poder enxergar nem ouvir o mundo, Helen Keller, como todos sabemos, inventou formas de o ver e sentir, e de com o mundo dialogar intensamente, para o aperfeiçoar. Cega e surda desde bebê, ela viveu 88 anos (1880-1968). Aprendeu a ler, a escrever e a falar, diplomou-se com louvor, em 1904, pelo Radcliffe College (Cambridge) e tornou-se conferencista e escritora de referência, autora dos livros A história da minha vida (1903) e O diário de Helen Keller (1938).Vale a pena aprender com ela.
2. Modos de cegueira
O ensaio publicado na Seleções começa assim:“Várias vezes pensei que seria uma benção se todo ser humano, de repente, ficasse cego e surdo por alguns dias, no princípio da vida adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silêncio lhe ensinaria as alegrias do som.”“De vez em quando” – continua – “testo meus amigos que enxergam, para descobrir o que eles vêem. Há pouco tempo, perguntei a uma amiga, que voltava de um longo passeio pelo bosque, o que ela observara. ‘Nada de especial’, foi a resposta.”“Como é possível, pensei, caminhar durante uma hora pelos bosques e não ver nada digno de nota? Eu, que não posso ver, apenas pelo tato encontro centenas de objetos que me interessam. Sinto a delicada simetria de uma folha. Passo as mãos pela casca lisa de uma bétula ou pelo tronco áspero de um pinheiro. Na primavera, toco os galhos das árvores na esperança de encontrar um botão, o primeiro sinal da natureza despertando após o sono do inverno. Por vezes, quando tenho muita sorte, pouso suavemente a mão numa arvorezinha e sinto o palpitar feliz de um pássaro cantando.”Mais adiante, Helen Keller desenvolve o exercício de imaginar o que gostaria de ver, se pudesse enxergar ao menos por três dias."No primeiro dia, gostaria de ver as pessoas. (...) Não sei o que olhar dentro do coração de um amigo pelas ‘janelas da alma’, os olhos. Só consigo ‘ver’ as linhas de um rosto por meio das pontas dos dedos. Posso perceber o riso, a tristeza e muitas outras emoções. Conheço meus amigos pelo que toco em seus rostos.”“Como deve ser mais fácil e muito mais satisfatório para você, que pode ver, perceber num instante as qualidades essenciais de outra pessoa ao observar as sutilezas de sua expressão, o tremor de um músculo, a agitação das mãos.”E Helen nos provoca:“(...) será que já lhes ocorreu usar a visão para perscrutar a natureza íntima de um amigo? Será que a maioria de vocês que enxergam não se limita a ver por alto as feições externas de uma fisionomia e se dar por satisfeita?”E agora, pergunto eu: por onde andam os olhos e a sensibilidade dos repórteres de hoje (naturalmente, com as devidas, porém raras, exceções), que não conseguem captar dos seus entrevistados nada além do nome e da idade? Nem com a fala eles se preocupam, já que para isso existe o gravador. E assim se perdem, para a narração, a beleza e a significância das entonações, das ênfases, das expressões, do ritmo, do estilo, da articulação entre palavras e gestual, dos enlaces entre a pessoa e o ambiente.
3. Acordar a criatividade
Nas fantasias de Helen Keller, o segundo dia de visão seria dedicado à observação da natureza – em especial o milagre da noite se transformando em dia, depois de, na véspera, ter rezado por um pôr-do-sol colorido. E visitaria museus, para “avaliar o mérito das linhas, da composição, da forma e da cor”. Iria também ao teatro, ao cinema, na esperança de ver “a figura fascinante de Hamlet” ou “o tempestuoso Falstaff”, em cenários elizabetanos. E para captar em plenitude a graça de uma bailarina, que a cegueira só vagamente lhe permitia imaginar.O terceiro dia seria passado no mundo do trabalho e dos negócios.“A cidade seria o meu destino. Primeiro, numa esquina movimentada, apenas olhando para as pessoas, tentando, por sua aparência, entender algo sobre o seu dia-a-dia. (...) Tenho a certeza de que o colorido dos vestidos das mulheres, movendo-se na multidão, deve ser uma cena espetacular. (...).”E termina assim a mensagem de Helen Keller:“Eu, que sou cega, posso dar uma sugestão àqueles que vêem: usem seus olhos como se amanhã fossem perder a visão. E o mesmo se aplica aos outros sentidos. Ouçam a música das vozes, o canto dos pássaros, os possantes acordes de uma orquestra, como se amanhã fossem ficar surdos. Toquem cada objeto como se amanhã perdessem o tato. Sintam o perfume das flores, saboreiem cada bocado, como se amanhã não sentissem aromas nem gostos. Usem ao máximo todos os sentidos; gozem de todas as facetas do prazer e da beleza que o mundo lhes revela pelos vários meios de contato fornecidos pela natureza.(...).”
Temos aí um belo roteiro para despertar e sacudir a criatividade jornalística, que a cultura dos manuais de redação anestesiou e deseducou. Ah!, como o hábito desses exercícios faria bem aos que têm a responsabilidade da narração jornalística, não acham?
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