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terça-feira, 14 de novembro de 2006

“Cobras & Lagartos” na pauta dos jornalistas

Ana Gabriela Ribeiro* - cadegabi@yahoo.com.br


A imagem de Montes Claros, apresentada pela novela “Cobras e Lagartos”, na terça-feira (07/11), indignou o norte de Minas ao sugerir que o município seria um vilarejo sem infra-estrutura básica, distante dos avanços tecnológicos, onde o dinheiro não circula e a população é primitiva. Uma imagem que foi transmitida em rede nacional, com uma média de audiência de 45 pontos, índice considerado alto pelo Ibope para a programação do horário das 19h, mesmo em relação às novelas da própria emissora.

Ora, não devemos ser passionais a ponto de pensarmos que o erro cometido pela novela tenha sido proposital, premeditado – como demonstram algumas opiniões registradas na internet. Na verdade, a interpretação equivocada sobre a cidade revelou outra coisa: a falta de apuração, de pesquisa, de interesse e compromisso dos profissionais envolvidos na produção da novela com o público – mesmo considerando “que se trata de uma obra de ficção, onde as possibilidades são infinitas”, como se defende a Central Globo de Comunicação, em resposta aos e-mails revoltados daqueles telespectadores que amam e têm orgulho de Montes Claros (sentimento extensivo aos moradores de Bocaiúva, município que também “apareceu mal na fita”).

O erro é indesculpável porque depende dos profissionais que têm nas mãos uma informação a ser divulgada ao público – seja no país inteiro, num estado, num município ou comunidade, associação. No caso de “Cobras & Lagartos”, o autor decidiu que o personagem iria “cair” em uma cidade do interior de Minas, no fim do mundo, num lugar pobre, que não tem nada. Aí, ele se lembrou de Montes Claros ou alguém sugeriu, enfim, não importa de quem foi a idéia sobre a cidade, mas a partir deste momento, alguém da equipe – seja o autor, assistente, pesquisador, produtor – deveria ter perguntado onde fica Montes Claros e como é a localidade, se está de acordo com o que o enredo propõe.

Vamos então levar o exemplo para o campo do jornalismo, do cotidiano de uma redação. Qual seria a reação de uma pessoa que concedeu uma entrevista a determinado veículo de comunicação de uma cidade e, no dia seguinte, ao ler o jornal ou assistir à tv, se depara com o nome creditado errado ou suas palavras alteradas pelo repórter? Acredito que a decepção e a indignação seriam as mesmas dos telespectadores que viram a imagem de Montes Claros ser distorcida pela novela.

O jornalista tem a obrigação de confirmar todas as informações a respeito da fonte, do entrevistado, do personagem, da instituição, do órgão público, do bairro, ou seja, de qualquer pessoa ou local a ser citado em uma notícia. Ele não pode, como o autor da novela, “achar” sem confirmar, e pensar assim: “Ah! Eu acho que aquela mulher é empregada doméstica ou aposentada, vou creditar assim mesmo.”; “O fulano de tal disse... xi! não estou entendendo direito a minha letra, não me lembro direito o que ele disse, vou colocar o que eu achar”. Ao ler uma informação incoerente em um release, por exemplo, o repórter erra em não questionar, com quem o enviou, se é isso mesmo: “o investimento é de R$ 200 mil ou de R$ 200, como diz aqui no release?” O repórter ou redator conversou com o coordenador de serviços gerais da prefeitura sobre um problema tal, do bairro tal, considera este depoimento suficiente para responder pela secretaria de administração e o publica como fala oficial.

Inúmeros e variados são os erros que a imprensa comete diariamente nas redações do país afora. E em todos eles, há uma marca que não dá pra esconder: a da preguiça do jornalista de perguntar, questionar, de considerar a possibilidade de o outro ter errado, ou de duvidar de sua memória e apurar, apurar, apurar; gastar alguns minutos para verificar a veracidade de um dado, o sobrenome ou a função correta de alguém, a localização certa de um bairro, se o preso é suspeito ou culpado do crime. Isto é cuidado com a informação e, principalmente, respeito com quem vai ler, assistir ou ouvir a notícia.

* Jornalista e professora do Curso de Jornalismo do CRECIH/Funorte

Um comentário:

Anônimo disse...

Por um lado isso foi bom, agora o povo daqui abaixa um pouco o topete !!! hehe =D